Cancro de pulmão está a tornar-se o mais mortal para as mulheres
Um estudo divulgado nesta quarta-feira avança com previsões sobre
as mortes por cancro na Europa. Em 2015 o cancro do pulmão deverá
ultrapassar o da mama e será a primeira causa de morte por cancro nas
mulheres.
Aumento de cancro de pulmão nas mulheres é o efeito de uma mudança social que ocorreu há décadas Sara Matos (arquivo) Ao todo, vão morrer 1.314.236 pessoas de cancro nos 27 países da
União Europeia durante o ano de 2013, prevê um artigo publicado nesta
quarta-feira na revista Annals of Oncology . São mais 32.542
pessoas do que as que morreram em 2009 devido ao cancro. Ainda assim, é
um saldo positivo, em termos percentuais morrerão menos 6% de homens e
menos 4% de mulheres, de acordo com o estudo. O aumento do número
efectivo deve-se a uma população europeia mais envelhecida entre as duas
datas.
Mas há más notícias dentro
das boas novas. A percentagem de mortes por cancro do pulmão está a
crescer nas mulheres e prevê-se que seja a primeira causa de morte por
cancro na população feminina em 2015, ultrapassando o cancro da mama,
tal como já é nos homens.
“Se estas tendências opostas dos rácios
[de mortes] de cancro do pulmão e da mama continuarem, então em 2015 o
cancro do pulmão será o mais mortal na Europa”, defende Carlo La
Vecchia, co-autor do estudo e responsável pelo departamento de
Epidemiologia no Instituto Mario Negri em Milão, Itália.
Nos 27
países da UE , em 2013, 14 em cada 100 mil mulheres vão morrer de cancro
do pulmão, segundo o estudo, o que equivale a 82.640 mortes, um aumento
de 7% face a 2009. O cancro da mama, que por enquanto é mais mortal,
vai ser este ano a causa de morte de 14,6 mulheres em cada 100 mil,
números brutos são 88.886 mortes. Mas representa uma redução de 7% desde
2009.
No Reino Unido e na Polónia, o cancro do pulmão já se
tornou no mais letal. Mata respectivamente 21,2 e 17,5 mulheres em cada
100 mil. “O previsto aumento de cancro de pulmão nas mulheres no Reino
Unido pode reflectir a prevalência de jovens mulheres que começaram a
fumar nos finais da década de 1960 e na década de 1970, possivelmente
devido à mudança de atitudes socioculturais”, diz Carlo La Vecchia.
“No
entanto, há hoje menos mulheres jovens a fumar no Reino Unido e em
outros países da Europa e, por isso, as mortes por cancro do pulmão
deverão começar a diminuir e a nivelar pelas 15 em 100 mil depois de
2020”, acrescenta.
O grande problema do cancro do pulmão é ser
muito mais letal quando aparece do que, por exemplo, o cancro da mama,
diz-nos por seu lado Helena Gervásio, médica presidente do Colégio da
Especialidade de Oncologia Médica da Ordem dos Médicos que trabalha nos
Serviços de Oncologia Médica de Coimbra do Instituto Português de
Oncologia.
O artigo fez uma previsão probabilística do número de
mortes por cancro em 2013 na UE baseado em dados da Organização Mundial
de Saúde dos 27 países e utilizando ainda os dados mais recentes dos
países mais populosos: França, Alemanha, Itália, Polónia, Espanha e
Reino Unido.
“São dados muito importantes para sabermos se estamos
no caminho certo [do combate ao cancro]”, explica Helena Gervásio. “O
estudo serve para fazermos interpretações sobre a qualidade do
tratamento e prevenção dos doentes oncológicos.”
Segundo o artigo,
em 2013, irão morrer de cancro 737.747 homens e 576.489 mulheres. Nos
homens, o cancro do pulmão é responsável por um quarto das mortes: 37,2
em 100 mil homens. Apesar de a proporção ser muito maior do que nas
mulheres, no caso dos homens este cancro está a decrescer. Desde 2009
que já diminuiu a mortalidade em 6%.
A tendência de aumento na
mortalidade do cancro do pulmão para as mulheres também se observa em
Portugal? “Sim”, responde-nos Helena Gervásio. “É uma tendência mundial
que se vem a observar há uns anos. É o reflexo dos hábitos adquiridos há
décadas.”
O outro cancro que está em leve crescimento a nível de
mortalidade é do pâncreas, neste caso tanto nas mulheres como nos homens
(respectivamente 5,5 e 8 mortes em cada 100 mil mulheres/homens para
2013). “Para o cancro do pâncreas os factores de risco [como a
alimentação] aumentaram e a melhoria da qualidade da nossa medicina
permite-nos também diagnósticos mais precisos”, diz Helena Gervásio.
O
estudo prevê ainda que para os outros tipos de cancro como o do
estômago, dos intestinos, da próstata ou do útero, a mortalidade vai
diminuir em 2013. Helena Gervásio defende que a vacinação contra vírus
que provocam cancro e a opção de um estilo de vida saudável são as
melhores formas de evitar a doença. Para a médica, estes resultados
mostram que “estamos a ter um maior controlo da doença, estamos a dar
uma maior qualidade de vida e sobrevivência”. Fonte: Publico.pt
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