quarta-feira, 10 de junho de 2009

Vacina para cancro do colo do útero


Intervenção do Ministro da Saúde na apresentação do relatório da vacina contra o cancro do colo do útero - 10.12.2007.



É com grande prazer que, no passado dia 6 de Novembro, o Primeiro-Ministro, José Sócrates, anunciou que o orçamento de 2008 contemplará, para além de outros importantes programas, um novo programa para o Serviço Nacional de Saúde. Diz respeito à vacina contra o cancro do colo do útero. Decorrido um mês desde a apresentação do programa, estamos em condições de garantir que, a partir de Setembro do próximo ano, a vacina será integrada no Serviço Nacional de Saúde, assegurando que o acesso de todas as jovens à vacina contra o cancro do colo do útero não dependerá das condições económicas das respectivas famílias.

Hoje apresentamos a proposta preparada pela Direcção-Geral da Saúde e pela Comissão Técnica de Vacinação acerca da Estratégia que deverá ser aplicada à vacina contra o Vírus do Papiloma Humano (VPH). O Governo, pelo Ministério da Saúde, mais uma vez coloca-se na frente de luta contra os problemas e as assimetrias sociais que, infelizmente, ainda persistem no nosso país, agindo em prol da saúde pública, principalmente da população que vive em condições mais desfavorecidas, garantindo igualdade de oportunidade para todas as jovens portuguesas.

Quero agradecer à Comissão Técnica de Vacinação o excelente relatório que apresentou ao Governo e que nos permite tomar opções bem informadas e documentadas.

Esta vacina visa prevenir o cancro do colo do útero e outras doenças provocadas pelo VPH. O cancro do colo do útero continua a ser a segunda causa mais comum de cancro (depois do cancro da mama) entre as mulheres jovens (15-44 anos) na Europa. Portugal regista a maior incidência da doença entre os restantes países da União Europeia: cerca de 17 casos por cada 100 mil habitantes, com 900 novos casos por ano. Todos os anos morrem mais de 300 mulheres em Portugal com este tipo de cancro.

As infecções por VPH são muito comuns, estimando-se que mais de 70% das pessoas com uma vida sexual activa contraiam pelo menos uma infecção deste tipo. A esmagadora maioria das infecções é controlada pelo nosso sistema imunitário e quase inofensiva, mas cerca de 20% tornam-se crónicas e podem originar cancro, sobretudo se associadas a outros factores, como os genéticos ou adquiridos, como o tabagismo.

Como se trata de uma doença silenciosa, o rastreio deste tipo de cancro é fundamental, uma vez que, quando detectado no início, o tratamento pode ter uma taxa de sucesso de 100%. Temos de apelar ao rastreio, à prevenção, para que o despiste da doença seja rápido, permitindo actuar com eficácia no sentido da cura. A tendência poderá ser invertida com a vacina contra o VPH, mas não podemos baixar os braços na prevenção secundária, na fase adulta da mulher, através do exame citológico do colo do útero.

A opção pela inclusão da vacina no Programa Nacional de Vacinação e pela prevenção primária surge com a descoberta de duas vacinas, uma contra os subtipos de VPH 6 e 11 e outra contra os 16 e 18. Os estudos realizados demonstram serem 100% eficazes na prevenção de lesões pré-cancerígenas e adenocarcinomas não invasivos do colo do útero.

A estratégia proposta pela Comissão Técnica de Vacinação foi agora apresentada: (1) administrar a vacina a raparigas com 13 anos de idade, com início em 2008, para a coorte nascida em 1995; (2) realizar uma campanha de repescagem, entre 2009 e 2011, com vacinação da coorte de raparigas que completam os 17 anos no ano da campanha (coortes nascidas em 1992, 1993 e 1994); (3) a partir de 2012, passar a vacinar apenas uma coorte por ano.

A vantagem desta estratégia mista e mais abrangente resulta da vacinação, num curto espaço de tempo, das coortes que apresentam maior risco de infecção por VPH e que mais beneficiam com a vacinação. A opção de inserir a vacina no Programa Nacional de Vacinação, ao invés da comparticipação das vacinas disponíveis no mercado, prende-se com o facto de os jovens iniciarem a vida sexual cada vez mais cedo e a doença atingir mais mulheres entre os 25 e os 44 anos.

Permanece a questão do apoio às jovens fora da faixa etária cuja protecção agora se inicia e ainda antes do início da sua vida sexual. É uma matéria que está a ser estudada em todas as suas implicações. Oportunamente daremos conta de propostas para estes grupos.

Os benefícios de introduzir esta vacina no sistema de vacinação nacional irão incidir sobre as mulheres e as suas famílias durante várias gerações. Mas apesar das promessas trazidas pela vacinação, não há dúvidas de que esta deve ser acompanhada pela melhoria dos rastreios, sobretudo à mulher adulta, uma área onde há ainda muito a fazer. A prevenção é sempre melhor do que a cura e esta vacina vai evitar que muitas mulheres apanhem o vírus do Papiloma Humano, podendo vir a salvar muitas vidas daqui a alguns anos.

Apresentação do Relatório sobre a Vacina contra o Colo do Útero, Maternidade Dr. Alfredo da Costa, Lisboa - 10 de Dezembro de 2007

O Ministro da Saúde
António Correia de Campos


Texto Tirado de: Portal da saúde

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