terça-feira, 8 de setembro de 2009

Seus medos e angustias

O Cancro é segundo a Direccção Geral de Saúde e, é depois das doenças cardiovasculares, a segunda causa de morte em Portugal. Provavelmente é a doença mais temida do mundo moderno. Mesmo sendo um cancro que se possa curar, a angústia e o desespero de quem dele sofre tornam-se pesadíssimos.

O diagnóstico é acompanhado de medo, angústia e desespero, que envolvem não só o doente, mas toda a família e os amigos, consolidando estigmas e preconceitos sociais. Hoje em dia, com os grandes avanços no campo da Medicina, nomeadamente com o crescente desenvolvimento das terapêuticas anti-neoplásicas (quimioterapia, cirurgia, radioterapia e terapêutica biológica), as doenças oncológicas mudaram, sendo possível alcançar a cura para algumas, e, para outras, prolongar a vida muito para além do que seria de esperar pela história natural da doença. Assim, pode-se afirmar que, hoje em dia, há a possibilidade de controlar a doença.
No entanto, viver com uma doença crónica (doença de longa duração, que afecta profundamente a vida da pessoa, em que a intervenção médica é muitas vezes paliativa, visando mais o controlo dos sintomas do que a sua cura), implica uma tentativa de reconstrução da própria vida, envolvendo estratégias específicas para lidar com os sintomas, com as consequências percebidas da doença e com o ajustamento à doença, no âmbito das relações sociais.

ADAPTAÇÕES E MAMA

O projecto de vida vai ser alterado, com repercussões em todas as suas áreas. Esta mudança exige um grande esforço de adaptação a uma nova vida. É necessário aceitar e incorporar as limitações que a doença provoca. Neste sentido, a ajuda de um psicólogo é fundamental, para ajudar a pessoa a adaptar-se a uma nova condição de vida. Perante a sua nova condição, os próprios doentes auto-marginalizam-se, vivendo muitas vezes o estigma a eles associado, pelo que a desejada reconstrução de uma nova identidade e a busca de um novo sentido para a vida se tornam tarefas difíceis e demoradas. É necessário que o doente não deixe de fazer as coisas que lhe dão prazer. Deve integrar as limitações que a doença provoca na sua vida, e procurar ajustar-se a isso.
A doença reveste-se de características com grande carga emocional e social. E, tal como quando nos morre um familiar querido e temos que fazer o luto dessa perda, o mesmo acontece com os doentes com cancro. Eles têm que fazer o luto do corpo saudável, para se adaptarem às perdas e às limitações que a doença lhes traz.
-MAMA: O cancro da mama está entre as doenças que mais provocam medo e angústia nas mulheres, devido não só à sua alta incidência, bem como devido às repercussões psicossociais que tem nas suas vidas. O período de diagnóstico pode ser bastante traumático, sendo normal sentimentos de raiva, revolta, tristeza, medo, angústia entre outros. A mama é um símbolo de feminilidade, maternidade, sexualidade, sensualidade e beleza, e quando sofre alguma alteração pode abalar drasticamente a noção de identidade da mulher. Tanto para as mulheres mastectomizadas (que retiram a mama) como para as submetidas a cirurgia parcial, pode surgir medo de perder o companheiro, pois, de certa forma, sentem-se “menos mulheres”, devendo ser ajudadas, compreendidas e apoiadas por elas. Existem as próteses mamária (soutien com enchimento na parte da mama que foi retirada), e passado algum tempo (é o médico qua avalia isso), podem fazer a reconstrução mamária.

EFEITOS SECUNDÁRIOS

O tratamento médico é reconhecido como desgastante, tanto em termos físicos como emocionais, sendo a ansiedade, a depressão e a auto-estima sintomas mais frequentemente identificados pelas doentes. A acrescer à perda da mama (total ou parcial), estão os efeitos secundários do tratamento, tal como a queda de cabelo. Pode acontecer as mulheres terem receio, ou, simplesmente, não se conseguirem olhar ao espelho pois não se reconhecem, e aqui, mais uma vez é necessário fazer o luto da imagem corporal. Outras mulheres reagem muito bem, adaptando-se de forma extraordinária e moldando a sua vida ao tratamento e à doença.
Apesar de se falar muitas vezes na doença, em revistas, na televisão, na rua, a maioria da população tem falta de conhecimento sobre causas e tratamentos possíveis do cancro, o que aumenta ainda mais o estigma social associado à doença.
É também necessário criar programas organizados de monitorização que cheguem a toda a população, como acontece, por exemplo, no Reino Unido. Neste país, a população geral recebe uma carta que convida à realização de um exame de monitorização, por exemplo a cada 5 anos (dependendo da idade da pessoa) e o mesmo acontece para a realização de mamografias.
Desta forma, é necessário fazer exames regulares para o diagnóstico ser atempado, principalmente nas idades de risco.
Viver com uma doença crónica, como o cancro, requer grande capacidade de organização, integração e sobretudo de adaptação a uma nova condição de vida.



http://www.soberaniadopovo.pt/portal/index.php?news=1341


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